Como checar informações se os dados não são confiáveis?

Taís Seibt
3 min readMay 26, 2020
Imagem: Gerd Altmann/Pixabay

Uma das premissas do fact-checking na busca de dados para checar informações é priorizar fontes oficiais. Na verdade, isso é uma máxima da apuração jornalística. E também das recomendações contra a desinformação: vá até a fonte oficial para verificar o que estão dizendo. Mas como checar informações se os dados oficiais nem sempre são confiáveis?

Talvez nunca antes da pandemia do novo coronavírus tenhamos nos questionado tanto sobre isso. E se há insegurança sobre dados oficiais em níveis mais altos da gestão pública, como o governo federal e os governos estaduais, imagine em municípios Brasil afora, principalmente os menores e do interior.

Foi esse o desafio da terceira turma do Curso Livre de Fact-checking da Faculdade Cásper Líbero, que teve sua primeira edição na modalidade à distância no último sábado, 23 de junho, devido às medidas de isolamento social. A mudança da oferta permitiu que o curso integrasse estudantes para além da capital paulista: Teresina (PI), Fortaleza (CE), Salvador (BA) e Uberlândia (MG) estiveram representados na turma, assim como Taubaté (SP) e Guarulhos (SP).

Nas outras edições, a turma se debruçou em assuntos do momento para checar — um projeto de lei sobre agrotóxicos, em 2018; um discurso do ministro da Educação, em 2019. Em 2020, com a Covid-19 tomando conta do noticiário e das conversas públicas de Norte a Sul, o desafio foi outro. Cada estudante deveria buscar manifestações recentes do prefeito de sua cidade e partir em busca dos dados para checar. Descobriram, na maior parte dos casos, que esses dados não existem, ou pelo menos não estão públicos.

Foi um pouco frustrante para os estudantes, porque quando buscam um curso como este, em geral, eles esperam ansiosos pelo momento de etiquetar uma informação ou imaginam que temos à disposição algum tipo de varinha de condão para magicamente encontrar as evidências de imprecisão em um discurso. Não é assim que funciona.

Mas certamente foi pedagógico. Já ministrei dezenas de oficinas sobre o tema em diferentes contextos e tenho ouvido repetidas vezes de estudantes dos mais variados níveis de formação, de jovens de ensino médio a alunos de pós-graduação e jornalistas profissionais com larga carreira: “É bem mais difícil do que eu pensava”. Encontrar as evidências necessárias à checagem esbarra na falta de transparência, que prejudica o controle social — e o jornalismo, como o fact-checking, são instrumentos de controle social. Aí está a importância desses profissionais na sociedade.

Por compromisso profissional, jornalistas e fact-checkers buscam dados, pressionam o poder, expõem suas contradições. Com isso, colaboram para que os cidadãos possam melhor fiscalizar seus gestores.

Cursos como o de sábado passado, além de transmitir métodos e procedimentos a graduandos e profissionais em busca de qualificação, são oportunidades para sensibilizar para o compromisso cívico que todos nós temos no trato das informações pelo poder público.

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Taís Seibt

Jornalista diplomada, doutora em comunicação, amadora de vôlei e cantora nas horas vagas